20 de dezembro de 2005

Mário Soares acha que Cavaco Silva não tem formação política, que é incompetente e ignorante em tudo que não seja economia e finanças, que só diz banalidades e que está a tentar enganar os portugueses. Tudo isto dito várias vezes e de várias maneiras, por vezes de forma cruel, chegando a parecer que tinha perdido a cabeça. Fez mais o ex-presidente da República no frente-a-frente com Cavaco Silva na RTP: numa manobra típica de quem está desesperado, o candidato do PS recorreu ao ataque pessoal, tentou fazer um julgamento de carácter do adversário, fez insinuações que foi incapaz de concretizar, foi arrogante e grosseiro até dizer chega e voltou a dizer que tem uma vasta cultura humanista que eu, sinceramente, não sei se tem. Voltou, em resumo, a demonstrar que o grande desígnio da sua candidatura à Presidência da República é derrotar Cavaco Silva, e só derrotar Cavaco Silva. O adversário fez o oposto, e fez bem. Ignorou os ataques (imagino que não deve ter sido fácil), esteve mais sereno (quem diria?), contra-atacou com substância e elegância, chegou a praticar a ironia. Para um candidato que toda a gente dizia não ser um especialista em debates, não se saiu nada mal. Pelo contrário, Mário Soares chegou a ser desastroso. Apontado por todos como um especialista neste tipo de confrontos, duvido que o debate lhe tenha rendido um só voto — se é que não perdeu alguns. Mas só se pode queixar de si próprio, pois optou por uma estratégia que esteve longe de se revelar eficaz. Por demérito próprio mas, também, por mérito alheio. A forma pouco elegante como se comportou neste confronto merece, por si só, que os portugueses lhe dêem uma derrota histórica nas próximas Presidenciais.