30 de setembro de 2010

UMA PENA. Já aqui dei conta Da Nascente à Foz do Amazonas, a que hoje voltei e mais uma vez constatei que as editoras fazem mal ignorar. Se não me engano, o livro foi editado no Brasil em 1991, e nunca distribuído em Portugal. Uma pesquisa no Google diz-me que há uma edição portuguesa de uma autarquia, mas a bondade da coisa significa, na prática, quase nada em termos de visibilidade, e outro tanto em termos de distribuição. Alguma editora faz o favor de o ler? Verá que não dará o tempo por mal empregue.
NÃO ME ESTRAGUE COM MIMOS. Um exagero, caro Francisco, um exagero. Mas fica a intenção, que agradeço, e a admiração pelo Trompete que aí vem.
PRÉMIO A ESTUPIDEZ NÃO TEM LIMITES. «(...) o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre.»

28 de setembro de 2010

JORNALISMO. Fernanda Câncio insurgiu-se contra o facto de jornalistas com carteira profissional exercerem a profissão em jornais como o Avante! (Partido Comunista), Acção Socialista (Partido Socialista) e Esquerda (Bloco de Esquerda), prática que diz violar o Estatuto do Jornalista. Acontece que quem lê publicações desse género sabe bem o que está a ler, e de que lado está quem lá escreve. Não sendo uma prática que se recomende, pelo menos é transparente. Já o jornalismo enviesado que se pratica um pouco por todo o lado, a começar pela imprensa dita de referência, onde as opiniões passam por factos com demasiada frequência e onde se esperaria que os jornalistas fossem isentos e independentes, é mais preocupante, até porque é mais difícil de detectar.
O NOVO PORTUGAL. O Filipe Nunes Vicente iniciou mais uma série que promete.

24 de setembro de 2010

CONSPIRAÇÕES. A teoria segundo a qual foram os americanos que orquestraram o 11 de Setembro de 2001 já tem barbas, mas como explicará Ahmadinejad o facto de a tramóia não ter invertido a tendência de queda da economia norte-americana, que seria o objectivo? Convenhamos que há teorias mais bem amanhadas, mas talvez fosse esperar demasiado de quem não se distingue pela subtileza.
BORGES. Descobri, numa passagem pela Book Culture (mais uma excelente livraria condenada ao desaparecimento graças aos clientes como eu), uma pérola de Borges. Como vai sendo habitual, tomei nota do título, e encomendei na Amazon. Suspeito que já li alguns textos de Otras inquisiciones noutro livro qualquer, mas prefiro tê-los em duplicado a não os ter.

23 de setembro de 2010

DÉJÀ VU. Contrariando o que toda a gente disse na altura, defendi que Manuel Maria Carrilho devia ter-se demitido quando recusou — e bem — cumprir uma ordem do Governo para votar num egípcio que se distinguiu por queimar livros. Como entendeu não haver motivo para tanto, como não o incomodou o facto de ter sido substituído por um subalterno no momento da votação, Carrilho merece o destino que teve. O resto — se foi informado pela tutela da sua substituição ou ficou a saber pelos jornais — interessa pouco, e se tivermos em conta episódios passados protagonizados pelo mesmo Carrilho ainda interessa menos.
TEMPOS SOMBRIOS. Nesta altura, o líder da oposição devia liderar a oposição. Devia dizer claramente o que entende que deve ser feito, o que vai encerrar, quanto vai cortar, o que nos espera. Arriscado? Pois é.

21 de setembro de 2010

SILÊNCIO ELOQUENTE. Conhecida a celeuma que precedeu a divulgação parcial do acórdão do processo Casa Pia, esperar-se-ia que houvesse ainda mais barulho quando foi divulgado na íntegra. Afinal, só aí se ficou a saber de que foi acusado quem foi condenado, e pelo que foi dito até aí seria de esperar mais indignações. Estranhamente, nada disso sucedeu. Tirando um fogacho aqui e ali, instalou-se o silêncio à volta do caso. Um silêncio demasiado eloquente.
O CÃO DE RIVERA. Conta-se que um dos cães de Rivera urinou numa aguarela que o mestre acabara de pintar, e que Rivera, furioso, agarrou num machete e perseguiu o animal por toda a casa. Encurralado numa divisão, o canídeo suplicou, em silêncio, piedade. Desconsertado, o pintor virou-se para ele e disse-lhe: «Senhor Xólotl, você é o melhor crítico de arte que eu conheço.»
(História contada no livro Soñar Com Los Ojos Abiertos: Una Vida de Diego Rivera, de Patrick Marnham.)

17 de setembro de 2010

CULTURA. Quais são os critérios para apoiar — ou não — determinada criação artística? Com que fundamentos se diz que a obra de fulano deve ter apoio do Estado e a de sicrano não deve? Estas são algumas das perguntas que eu gostaria de ver respondidas sempre que vem à baila o financiamento do Estado à cultura, não a conversa fiada do costume como a que a ministra da Cultura deu à estampa no Público.
RECEITA. Fugir prà frente à moda de Madaíl
A GRANDE MÚSICA (7)

15 de setembro de 2010

MUDAM-SE OS TEMPOS. Carlos Cruz insurgiu-se, com razão, contra o julgamento de que foi vítima nos media, que de um modo geral o condenaram. Mas agora, que se desmultiplica em entrevistas em todo o lado com o propósito de demonstrar a sua inocência, já achará bem ser julgado pelos media? Será preciso dizer que, segundo esta lógica, o julgamento nos media é bom quando a sentença nos convier, e mau quando não convier?
INDIGNAÇÕES DE PACOTILHA. Anda para aí meio mundo indignado com a forma como Carlos Queiroz foi afastado da selecção, e estou em crer que alguns genuinamente. Mas o que diria esta gente se a federação da bola o tivesse despedido de outro modo e lhe tivesse pago os milhões a que teria direito por quebra de contrato? Estaria bem? Não seriam estes senhores os primeiros a indignarem-se caso isso sucedesse? Não tenho a mais leve simpatia por quem manda na bola, nem por quem manda nos mandantes da bola. Mas isto de criticar por ter cão e criticar por não ter acaba por demonstrar que os mandantes da bola talvez tenham alguma razão, e talvez por isso mereçam o benefício da dúvida.

13 de setembro de 2010

TIROS DE PÓLVORA SECA. Não sei se Carlos Cruz é, ou não, culpado do que foi acusado, mas convenhamos que é fraquinho o argumento segundo o qual o tribunal decidiu condená-lo com base em preconceitos e que a investigação terá andado a reboque da opinião pública. Como explicar tanto erro junto quando é sabido que o processo envolveu investigadores da Judiciária, magistrados do Ministério Público e cinco juízes? São todos preconceituosos? Todos incompetentes? Como é evidente, o argumento não é fácil de digerir.
CAMPANHA MEDIÁTICA. Carlos Cruz sempre foi, para os media, o rosto do processo Casa Pia. Por se tratar do arguido mais mediático, porque foi um profissional de televisão conhecido por todos e por todos respeitado. Não estranho, por isso, que surja em toda a comunicação social, que a comunicação social não tem obrigação de dar tratamento equivalente aos restantes arguidos nem funciona por quotas, ao contrário do que alguns julgam e outros desejariam. Posto isto, duvido que as constantes aparições de Cruz nas televisões e nos jornais o beneficiem aos olhos da opinião pública, apesar da ajudinha que lhe têm dado e da falta de profissionalismo com que alguns lidaram com o caso, como foi público e notório no Prós e Contras. Aliás, as explicações que Cruz entendeu dar na tentativa de demonstrar a sua inocência não têm, a meu ver, beneficiado a sua tese. Bem pelo contrário.
MONSTRUOSIDADES. Tirando Carlos Silvino, que confessou ter cometido alguns crimes de que foi acusado, nenhum dos restantes arguidos no processo Casa Pia diz ter praticado os actos pelos quais foi condenado. (Continue a ler aqui.)

8 de setembro de 2010

OBSCENO. Carlos Cruz passou a semana que antecedeu a sentença da Casa Pia a «perturbar a ordem e a tranquilidade públicas», como alertou o advogado José Maria Martins, que chegou a dizer que se fosse outro o arguido teria sido preso. Agora, depois de saber que foi condenado a sete anos de cadeia, colocou, na sua página pessoal, vídeos com que pretende demonstrar a sua inocência, matéria cuja divulgação terá sido proibida pelo tribunal. Como nada sucedeu até agora, como Carlos Cruz e seus advogados continuam a dizer o que muito bem entendem sem que nada lhes suceda e a fazer toda a espécie de ameaças sem que alguém se rale, tudo isto será normal. Anormal, pelos vistos, seria a justiça dar-se ao respeito e fazer-se respeitar.
SURPRESA. Depois de ter assumido que a perseguição aos homossexuais foi um erro, Fidel Castro não pára de surpreender. Agora defendeu o povo judeu, que considera «muito mais difamado que os muçulmanos» — e aconselha o regime iraniano a procurar entender os motivos pelos quais os judeus foram perseguidos ao longo da história. Mas há mais: Fidel admite que o modelo económico cubano deixou de funcionar. Ler para crer a entrevista da Atlantic Monthly.

7 de setembro de 2010

TRAULITEIRO PINTO. O bastonário da Ordem dos Advogados não conhece o processo, nunca viu o processo, mas acha que as penas de Carlos Silvino e de Carlos Cruz foram «excessivas». Já quando lhe perguntaram pelas vítimas, se tinha alguma coisa a dizer sobre as vítimas, o cavalheiro meteu os pés pelas mãos e refugiou-se em generalidades. Como demonstrou variadíssimas vezes durante o Prós e Contras sobre o processo Casa Pia, as vítimas, para ele, não contam, e nem se preocupou em disfarçar o desprezo que por elas sentia. Bem sei que a missão do sujeito é defender os seus pares, embora também aqui demonstrasse preferência pelos advogados dos arguidos, como lembrou um dos presentes no debate. Esperar-se-ia, contudo, mais substância e menos foguetório, embora já se soubesse que Marinho Pinto é mais para o tendeiro.

3 de setembro de 2010

BORGES. Onze centímetros de lombada, quase mil e setecentas páginas, mais de quilo e meio de peso. Eis a minha última aquisição, praticamente ao preço do transporte, depois de me ter cansado de esperar pela tradução inglesa (ou portuguesa), que a língua de Borges não é o meu forte. Como geralmente leio deitado, não vai ser fácil aguentar o peso, e o volume também não ajuda. Mas não vai ser por isso que vou deixar de o ler, deitado ou doutro modo. Só espero que não haja problema de maior quando, já a dormir, o livro me cair em cima, como sucede cada vez com maior frequência quando leio antes de adormecer.

2 de setembro de 2010

O MENOS MAU. O processo que ditará o afastamento de Queiroz da selecção nacional foi um bocado manhoso? Não há dúvida que foi. O ideal seria que corressem com ele logo que demonstrou que não servia, não há dúvida que seria. Acontece que despachá-lo dessa maneira teria custos muito elevados, que estariam agora a ser questionados caso tivesse sido esse o caminho. Como as coisas chegaram onde chegaram, abrindo-se a porta do despedimento por justa causa, não há o problema da indemnização por contrato não cumprido. Podia ter corrido melhor o processo? Podia. Podia ter sido melhor o desfecho? Duvido.