23 de abril de 2018

NO DIA MUNDIAL DO LIVRO. Conheci um sujeito que, vendo-me a ler enquanto almoçava, me disse mais ou menos assim: «Não me lembro de alguma vez o ter visto sem um livro na mão.» O sujeito, falecido há uns anos, espantar-se-ia hoje se me visse sem o tal livro na mão, e só poderia concluir que deixei de ler ou passei a ler menos. Lembro-me deste episódio depois de ter lido que hoje, ao contrário de ontem, já não se lêem livros nos transportes públicos, que foram trocados pelos smartphones. Será. Mas é preciso ver que alguns dos smartphones carregam ebooks, que muitos, por razões de ordem prática, preferem ao papel. É o meu caso, e não serei o único. Os ebooks têm «dentro» o mesmíssimo conteúdo que os livros, e num livro interessa-me, essencialmente, o conteúdo. A Guerra e Paz que se lê em ebook não é o mesmo livro que se lê em papel? O que muda em Thomas Mann se for lido em papel? Basicamente, o ebook contém a versão digital de um livro impresso, e como já enumerei em mais de uma dezena de textos as vantagens e inconvenientes de ambos os suportes, não vou repetir-me. Como faço parte da confraria, que suponho maioritária, dos que lê vários livros ao mesmo tempo, hoje faço-me acompanhar diariamente por algumas centenas de ebooks, que sempre que posso leio no tablet e quando não posso no smartphone. Quantos farão o mesmo? Ignoro a resposta, mas quer-me parecer que serão tantos — ou mais — que os que dantes liam em papel. Ao contrário de muitos, não estou convencido de que os smartphones roubaram leitores aos livros, digamos, tradicionais, como não estou convencido de que os ebooks roubam leitores aos livros em geral. Quem lia não deixou de ler por causa dos smarthphones ou ebooks. O que mudou, e muito, foram os suportes em que se lê, embora o suporte tradicional (o papel) continue a prevalecer — e nunca, como hoje, se publicou tanto livro em papel, enquanto o mercado dos ebooks parece estagnado. Apesar dos condicionalismos (falta de espaço onde os colocar, no meu caso), continuo a comprar livros em papel, embora quase só os que não encontro em ebook. Porque o que conta, repito, é o conteúdo. E nisso em nada se distinguem.